quinta-feira, 17 de junho de 2010

Instituto Moreira Salles abre grande exposição em comemoração aos 50 anos de Brasília





A mostra "As construções de Brasília" no Rio de Janeiro reúne acervo do IMS e obras de artistas modernos e contemporâneos

A partir de fotografias de Marcel Gautherot, Thomaz Farkas e Peter Scheier, do acervo IMS, que estão entre os mais importantes testemunhos visuais sobre a construção e a inauguração da nova capital federal, a exposição busca refletir sobre diferentes interpretações da imagem de Brasília. O objetivo da exposição é discutir as formas de representar a capital, levando-se em conta sua carga simbólica e o fato de a cidade ter se tornado um dos principais ícones nacionais, sobretudo por meio de sua arquitetura monumental.

A mostra, que ocupa todos os espaços expositivos do IMS-RJ, é dividida em dois núcleos. No primeiro, são apresentadas imagens dos três fotógrafos mencionados junto a obras gráficas e audiovisuais de Mary Vieira, Aloísio Magalhães e Eugene Feldman sobre a edificação e os primeiros anos da capital. O segundo núcleo reúne trabalhos de linguagens variadas de Waldemar Cordeiro, Cildo Meireles, Almir Mavignier, Regina Silveira, Orlando Brito, Luis Humberto, Emmanuel Nassar, Robert Polidori, Jac Leirner, Mauro Restiffe e Caio Reisewitz.

A obra dos fotógrafos do acervo IMS é apresentada sob uma perspectiva histórica, com informações sobre as circunstâncias dos registros de Brasília e os veículos de comunicação em que suas imagens foram divulgadas. O destaque desse núcleo são as fotos do francês Marcel Gautherot sobre a construção da capital, bem como imagens das principais obras arquitetônicas de Oscar Niemeyer registradas no início dos anos 1960. Boa parte das obras de Gautherot vai além do registro técnico, mostrando um mundo novo, arejado e espaçoso, onde predomina a amplidão e o vazio. Da produção do alemão Peter Scheier, que esteve na cidade em 1958 e 1960, a exposição privilegia imagens do dia a dia dos primeiros habitantes de Brasília: cenas do Núcleo Bandeirante, de pedestres nas áreas comerciais das superquadras, de crianças indo para a escola. Mostra também fotografias de arquitetura de sua autoria que, diferente das de Gautherot, registram paisagens urbanas recortadas por vidraças e venezianas, conferindo uma aparência multifacetada para a capital. Thomaz Farkas fotografou também o Núcleo Bandeirante e as primeiras favelas em torno do Plano Piloto. Fez ainda um retrato épico do dia da inauguração, mostrando o presidente Juscelino Kubitschek sendo aclamado pela população.

Os trabalhos de Mary Vieira, Eugene Feldman e Aloísio Magalhães reunidos nessa primeira parte da mostra revelam a construção simbólica da imagem de Brasília como ícone nacional. De Mary Vieira, é mostrado o cartaz e o livro de artista brasilien baut brasilia, realizados em 1957 e 1959, respectivamente, que se referem à participação do Brasil na exposição Interbau, em Berlim, em 1957. A exposição preparada por Mary Vieira apresentou pela primeira vez os projetos da nova capital do Brasil a um público europeu. De Aloísio Magalhães e Eugene Feldman, é mostrado o álbum Doorway to Brasília (1959), no qual os monumentos da cidade ganham uma feição pop. Também são apresentadas nesse núcleo cenas em 16 mm do canteiro de obras feitas pelo artista gráfico norte-americano Eugene Feldman, em 1959. As imagens coloridas, que enfocam, sobretudo, a figura do candango, estabelecem um interessante contraponto às fotografias de Gautherot, nas quais o destaque são as formas arquitetônicas.

Os trabalhos reunidos no segundo núcleo da exposição As construções de Brasília não buscam traduzir diretamente a capital e seus espaços, mas partem principalmente de um dado cultural, que é o status da cidade como emblema da identidade nacional. De representação do país do futuro, a capital passa a ser vista como palco de crises econômicas e políticas. Sob certos ângulos, ela perde sua dimensão monumental, chegando a se confundir com outras cidades do país.

Waldemar Cordeiro, por exemplo, participa com a obra Liberdade (1964), uma espécie de maquete com formas fragmentadas que lembram os monumentos da praça dos Três Poderes. O trabalho composto pela colagem de objetos, imagens de jornal e textos retalhados enunciam a desarticulação da proposta desenvolvimentista da era JK. Regina Silveira e Jac Leirner integram a mostra com trabalhos feitos a partir da apropriação de fotos de Brasília de segunda geração. Silveira, com cadernos de cartões-postais da série Brazil Today (1977), que comentam o uso político, durante o período militar, de imagens idealizadas de ícones nacionais, tais como a paisagem do Rio de Janeiro, a rodovia Transamazônica e os monumentos de Brasília. De Jac Leirner, são mostradas obras da série Fase Azul realizadas nos anos 1990, cuja matéria-prima são notas de 100 cruzeiros e cruzados que circularam a partir de 1985, ilustradas com o rosto de Juscelino Kubistchek de um lado e um conjunto de monumentos da capital de outro.

O fotojornalista Luis Humberto revela uma face não idealizada e rotineira de Brasília, por meio de imagens do dia a dia dos moradores da capital durante a década de 1970. Caio Reisewitz enfoca a relação entre estética e poder por meio de fotografias do palácio do Itamaraty. Mauro Restiffe mostra a série Empossamento com fotos realizadas durante a festa de posse do presidente Lula, em 2003, nas quais não há políticos em cena. O que se vê é um ponto de vista distanciado de quem presencia a festa sem participar dela.

A curadoria da exposição é de Heloisa Espada, historiadora da arte e coordenadora da área de artes visuais do Instituto Moreira Salles. Paralelamente à abertura da mostra As construções de Brasília será lançado o catálogo homônimo com a maior parte das obras expostas e textos assinados pelo crítico Lorenzo Mammì, pela historiadora Anat Falbel, pelo coordenador de fotografia do IMS Sergio Burgi e por Heloisa Espada.

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